Frederico Henrique de Melo, o Dr Fred, nasceu da união do militar cearense com uma professora paraibana, que o militar conheceu por conta do exército, e a instalação de um tiro de guerra no interior do alto sertão paraibano, na cidade de Cajazeiras, onde nasceu o futuro médico.
Dr Fred é um dos fundadores do Conselho Regional de Medicina (CRM-TO) entidade na qual detém o registro nº 1, e se tornou seu primeiro presidente, por aclamação.
O profissional lembra que no primeiro ano do Tocantins a classe médica adotou a estratégia de dividir as cidades por comissões, para articular a criação das entidades médicas no Tocantins: a Associação Médica, o Conselho Regional de Medicina (CRM-TO)e o Sindicato dos Médicos no Estado do Tocantins (Simed).
"Então houve naturalmente essa divisão que não foi pactuada, aconteceu de uma maneira absolutamente. O CRM ficou aqui mais centralizado, a capital provisória aqui, sua sede foi aqui (entrevista em Miranorte). Porto Nacional caracterizou-se como berço do sindicalismo e Araguaína ficou trabalhando a criação da Associação Médica Tocantinense", confirma o médico, filho de militar cearense que participou da revolução de 30 e mais tarde se formaria em odontologia em Fortaleza.
O pioneiro apenas nasceu paraibano, mas não teve tempo de ser paraibano. Chegou em Fortaleza muito criança e ali cresceu e estudou. Antes de entrar na faculdade de medicina, ainda no colégio Cearense (das irmãs Maristas) se habilitou a uma bolsa de estudos do Instituto Internacional de Educação, uma entidade sediada em Nova York, e se mudou para estudar na Gonzaga University, em Spokane, no estado de Washington.
"Lá perto da fronteira do Canadá. Um frio! Muito frio. Eu tinha planos de me graduar em medicina nos Estados Unidos, aproveitar essa situação, essa oportunidade da bolsa. Mas tive problemas de família. Lamentavelmente tive problemas de família, perdi meu irmão, um militar que morreu em um acidente, e meu pai veio a falecer também. Então de repente, eu que era o único homem da casa de uma família nordestina", conta.
De volta ao Brasil, se forma na Universidade Federal do Ceará, a UFC, e escolhe a clínica médica, pois seu plano era se mudar para o interior do país, pois achava que precisava "devolver" o custo de sua formação em faculdade pública a uma região carente do país e se fixou no norte goiano. "Eu nunca tinha ouvido falar em Miranorte na minha vida até o dia que cheguei aqui perto, em Guaraí".
Naquela época Fred saiu com um colega de turma, o neurocirurgião Budiene Pereira de Souza, que se radicalizou em Goiânia. "Nós vamos pro Goiás", decidiram.
Sem nunca terem visto um goiano antes na vida, pegaram a estrada em um fusca branco 66 do colega, daqueles à moda antiga: quando tira o pé do acelerador, o farol morre. O carro enfrentou as estradas tenebrosas do Piauí e Maranhão até a Belém-Brasília, em Araguaína.
"Araguaína estava muito desenvolvida, já, ela estava muito grande para as nossas pretensões. Nós queríamos interiorizar no sentido geral da palavra", conta, como motivo para seguir a direção norte-sul da rodovia. A dupla estacionou em Colinas e trocou ideias com o médico cearense Raimundo Amorim e o paranaense Odir Rocha e seguiram até Guaraí, onde abasteceram o fusca e souberam a existência de Miranorte, onde se radicaram, antes de Budiene Souza se mudar para Goiânia.
Fred também passou a clinicar em Miracema, onde participou das articulações para a criação do SIMED-TO e das demais entidades médicas. Segundo o médico, as pessoas que comandavam o processo de cada entidade estavam exatamente nesses locais e, em Porto Nacional, estavam os profissionais com mais ligação com os movimentos populares em estreita ligação com a medicina voltada para a comunidade.
A escassez de profissionais também é lembrada pelo pioneiro e a densidade médica era mínima. “Não tínhamos médico na região. O Tocantins não contava com médicos e consultórios. Os quadros eram poucos”, relembra, ao apontar que a baixa quantidade de profissionais também favoreceu a divisão das comissões por região e por entidade médica. “O impacto da criação do novo estado, chegando gente, falta de acomodação, tudo isso (impactou), então não havia jeito de você concentrar a criação de um órgão desse num lugar só”.
"Então foi algo natural, espontâneo Porto Nacional ter sido a sede do sindicato, não é que as pessoas que tinham, vamos dizer assim, comunhão com o movimento sindical, mas os que se identificavam com o sindicalismo, por coincidência do destino, estavam lá em Porto Nacional".
Segundo o profissional, o CRM ficou mais centralizado, com a capital provisória em Miracema, enquanto Porto Nacional se caracterizou como berço do sindicalismo e Araguaína trabalhou a criação da Associação Médica Tocantinense.
Dr Fred também aponta o médico Neilton Araújo como a força motriz para a fundação da entidade sindical entre as três do movimento médico tocantinense.
"Neilton foi sempre o grande expoente, é o que tinha sempre maior visibilidade. Fazia parte do movimento de reforma da saúde. Então, uma pessoa de um grau de politização acima da média dos médicos da época e tinha formação política muito forte. E por uma contingência, por uma razão natural, ele seria a pessoa mais apta a comandar junto com colegas de Porto Nacional, que naquele tempo também estava em franca militância, os Manzanos, Heloisa e Eduardo, que eram pessoas que também tinham fé de ofício que deixaram São Paulo numa perspectiva de trabalhar com a medicina pública dessa região que era extremamente incipiente, extremamente esquecida".
Reportagem especial 3 – Médico com registro nº 1 rememora criação do Sindicato dos Médicos